O professor Nuno Peres, do Departamento de Física da Escola de Ciências da UMinho, colabora em trabalhos científicos dos recém-eleitos vencedores do Nobel da Física, os russos André Geim e Konstantin Novoselov.

Os três físicos portugueses Nuno Peres, João Lopes dos Santos e Eduardo Castro já publicaram trabalhos com os investigadores de origem russa, galardoados ontem com o prémio Nobel da Física. A colaboração conjunta com André Geim e Konstantin Novoselov está referida num comunicado da academia sueca sobre o prémio. Os dois galardoados foram responsáveis pela descoberta do grafeno, a forma bidimensional do carbono, com a espessura de apenas um átomo, no Centro de Nanotecnologia da Universidade de Manchester, no final de 2004.

Em 2007 foi publicado um artigo na revista "Physical Review Letters" elaborado por Novoselov, Geim e pelos três físicos portugueses. No ano seguinte a revista "Science" publicou outro artigo da autoria de Greim e Novoselov e que contou com a participação de Nuno Peres. Este professor da UMinho também teve investigações noutras publicações da especialidade conceituadas, como "Reviews of Modern Physics" e "Journal of Physics Condensed Matter", que neste caso integrou o top dos melhores artigos do último ano.

O grafeno

A física do grafeno debruça-se sobre um novo alótropo do carbono (os outros são o diamante, grafite, fulerenos e nanotubos). O material foi descoberto em 2004 e de início era obtido a partir da esfoliação da grafite, ou seja, de um simples pedaço de carvão. Hoje é produzido em folhas de cerca de 30 polegadas. "Isto é algo de extraordinário, se atendermos a que o grafeno é uma folha com a espessura de um único átomo", refere Nuno Peres. A título de exemplo, a coreana Samsung começou já a produção em massa de folhas de grafeno, que serão incorporadas como eléctrodos transparentes na nova geração de "touch-screens" de dispositivos electrónicos a produzir pela empresa, substituindo com enorme vantagem os actuais óxidos de índio.

ENTREVISTA AO PROF. NUNO PERES

O carbono volta hoje a estar em destaque. Depois do Nobel da Física também o Nobel da Química distingue um trabalho sobre as reacções desta matéria. Afinal, o que tem o carbono de tão especial?
O carbono é fonte de vida e por isso nos é tão querido. O próprio grafeno, quando obtido a partir do carvão tem a sua origem em algum organismo vivo num passado muito distante. Acresce que o número de compostos à base de carbono é virtualmente ilimitado, daí nos estarmos constantemente a cruzar com este elemento químico. Na verdade, a sociedade actual pode ser designada por sociedade do carbono.

Quais as aplicações práticas que em breve podemos esperar a partir das investigações do grafeno?
Novos painéis tácteis (touch-screens) para monitores de computadores e aparelhos de comunicação móvel; células solares; detectores de radiação electromagnética; sensores de pequenas quantidades de certos tipos moléculas em ambientes fechados; sensores de tensão em estruturas; sequenciação das bases que constituem o ADN; metrologia na definição do padrão de resistência eléctrica.

De alguma forma o Nobel da Física também é um pouco português?
Não, de todo! Que isto fique claro. Mas é bom para a Física Portuguesa ver artigos feitos em colaboração com os laureados sublinhados na nota bibliográfica publicada pela Fundação Nobel. Muito mais importante ainda é mostrar aos jovens que actualmente frequentam o Ensino Secundário que também em Portugal se faz investigação na vanguarda da física e que podem estudar física numa Universidade bem perto deles, na qual a excitação dessa actividade humana tem lugar.

Parece quase impossível que a grafite, a forma bruta deste material e que existe em qualquer lápis, só tenha sido descodificada em 2004.
Na verdade, antes dos resultados de 2004 obtidos pelo grupo do professor Geim qualquer físico diria que um material como o grafeno não poderia nunca existir. Felizmente a Natureza é muito mais imaginativa que o seu principal inquiridor. Assim cá temos o grafeno.

Quem são estes dois investigadores russos, Andre Geim e Konstantin Novoselov, agora distinguidos com o Nobel da Física? Como é trabalhar com eles?
Acho que os posso caracterizar como: são físicos para os quais o gozo está na compreensão dos mistérios da Natureza. Não têm medo de investir tempo em projectos que podem muito bem falhar. Não ficam presos por toda a vida ao que em dado momento aprenderam a fazer, acumulando publicações com a ferramenta que sabem usar. São pessoas extremamente exigentes consigo mesmos e com todos aqueles com quem colaboram. São colegas de fino humor e com quem se passa um almoço em agradável companhia.

Quais os projectos científicos de maior relevo em que está envolvido neste momento?
Neste momento está em curso uma investigação sobre a bicamada de grafeno, envolvendo as Universidades do Minho e do Porto e a Universidade Nacional de Singapura (nº 30 no ranking de universidades elaborado pela Times Higher Education).
 
 
 



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Ficheiro anexo
Reportagem da RTP1 / Jornal da Tarde, 06-10-2010 (8552021 bytes)

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